As árvores são poemas da terra para o céu. Nós as derrubamos e as transformamos em papel para registrar todo o nosso vazio (Khalil Gibran)



quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Sétimo horizonte

por Flávio Henrique Tavares da Silva (o "Minerinho")

Um princípio de coisas mortas
Que não acabam nem ficam
Como um dia sem sombra
Esquálido e terno
Esculpidas num resto de dor
Que machuca mas não fere
Vagam em jardins de urtigas
Cantando coisas faladas
Em lindas mentiras
Mais belas que a maior das ilusões

pacto de sangue

Não me fale das auroras
que adornam tua janela
na manhã dos dias

nem do medo que sentes das tempestades
que se anunciam
no fim das tardes desertas

nem do choro que brota de teus olhos
quando as lembranças
da vida cruel te enlaçam

nem da saudade que sentes
não podendo saber suas razões ou seus fins

não me digas nada

não me abrace

não me dê amor

quando escolhemos a solidão
nosso martírio e maldição
somos nós mesmos

dissolvidos num copo de autopiedades

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

subúrbios de mim

meu medo é meu propósito:
acessar o mar pelas bordas

assobiar maneiras
precipitadamente
na relva absurda e insistente que conduzimos entre a sola de nossos sapatos e a terra

pequenos demais pra alcançar teus frutos
subimos em escadas
escalamos o mundo
(as pedras estão no chão
não diga nada a ninguém)
e implodimos a realidade
e fizemos dela cinzas
salgadas e doces
prontas para temperar nosso chá
enquanto dissolvem
lentamente...
sobre a mesa
lentamente...

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

A anti-flor (Ciclamen)

Nascer do ventre de nós
extasiado, ser nós e imprimir na manhã esse gosto amargo de nunca mais
sair ao mar
cair no mar
jogar-se

embriagado, vivenciar o mundo e louvar as pétalas incompreensíveis do ciclamen

a anti-flor
que se esconde do sol
que se lança ao solo como ao mar

que inverte o sentido da flor
que inventa a incompreensão na flor

que faz do vento uma postura ao sol
(26/06/2006)

Partir

saber de si
e perceber-se só como escaravelhos na relva fria do inverno

encontrar a manhã, e preso esculpir de si esse medo sempre altivo
a pronunciação da catarse

sentir-se parte
e partir

deixar um beijo oculto na boca esparsa e sem gosto que as rosas murchas ostentam no fim do verão
(23/07/2006)

Sêmantica do desconhecimento: como se o medo fosse uma figura

Sempre como albatrozes
esperado carne
e mais que carne, esperando vida
e mais que vida, esperando o defecho da vida
e gerando-o

construir pequenos castelos com palitos de dentes
sem pontas
sem cola
sem pontas

e investir em papagaios
verdes
se é que há algum não-verde

e pintá-los de verde
e pintá-los de verde
e pintá-los de verde
e pintá-los de verde

enxergar deus vomitando anfetaminas no jardim!
(17/09/2006)