As árvores são poemas da terra para o céu. Nós as derrubamos e as transformamos em papel para registrar todo o nosso vazio (Khalil Gibran)



sábado, 28 de junho de 2008

labirintos de lã

foices feitas de metal
abundantemente propício para tuas intenções
de construir pequenas avenidas de batatas podres, na vertigem do teu absurdo engasgo
que nasceu de um sonho renegado
de um motivo renegado

sobre as cabeceiras obtusas, nos labirintos improvisados de compasso e de lã
em novelos
comprimindo os ossos subterfúgios, as caveiras de comerciais de purgantes laxativos e emplastros de micoses abundantemente colocadas sobre teus olhos, que de tanta raiva agora são os meus, que de tanta raiva tornaram-se os meus, vieram em busca dos meus,
obrigaram a fabricação do sentido na boca insensível que te consome, entre as pulgas da memória, entre nossos cadáveres de feridas, de hambúgeres do mesmo excremento reconstituído, feitos da maldade que sobrou no tempo enxuto (promulgado por juízes razoáveis, nos pedestais de incompreensão que sobre o medo, o céu incrédulo nos permitiu aceitar)

e a manhã com a sua claridade abrindo nossos peitos como porcos abatidos pela fome do mundo, pela fome das batatas da perna da dançarina inconteste que assumindo o sacrifício
nos adota como irmãos
nos comprime como filhos
e nos mata
na justificativa da verdade e da justiça
como um preceito moral que nos ultrapassa

domingo, 22 de junho de 2008

fugitivo

atrás da porta, no canto da parede, no fundo de um baú...
como uma sombra, uma maneira de segurar a respiração com as mãos embalsamadas...

e mais q um hábito, um aceno discreto contra o espelho, esperando uma devolução selada de desesperos, um abeto, uma fuga em pétalas mal postas, deslizando sobre as cortinas da salas, com o vento...

e uma saudade, no fundo do peito plantada, esperando o tempo passar; o tempo passar, esperando o tempo passar...o tempo passar...

uma saudade do que nunca foi, uma saudade sem lembranças...