As árvores são poemas da terra para o céu. Nós as derrubamos e as transformamos em papel para registrar todo o nosso vazio (Khalil Gibran)



terça-feira, 23 de novembro de 2010

na escuridão, sob o signo do sol

nada
nem uma gota
nem um aroma
nem mesmo sua lembrança

apenas o chão
somente ele sob meus pés cansados
não pelos passos, pela deriva
não pelos medos
pela conjunção destes sobre meu rosto profuso de incoerências injustificáveis
de razões insuficientes
de um passado incompleto como lapsos de memória deixados sobre a penteadeira do tempo

E nem mesmo o chão
somente a sua falta
nada além que a cristalizada lembrança de tudo que nos coordena
ou o esquecimento, que de tudo se alimenta

o eixo pulsante de nossas desautorizações
a mágoa da vida perdida na frente de objetivos desconhecidos,
os motivos perdidos na inércia dos rumos de Coriolis
pelo medo do mar revolto, da incerteza inundável da vida

Os tentáculos perigosos desses monstros marinhos
preservados em receptáculos herméticos
alimentados para que possam, 
sobre a ilusão implacável da eternidade,
tornar-nos nômades de nós mesmos



sábado, 6 de novembro de 2010

não foi o sol,
foi a lembrança, que nos trouxe até aqui

o construto artístico de veias se tornando troncos,
florescendo em mentes,
despetalando-se em memória

alçapões cobrindo o segredo de tantos
o veludo recoberto de veludo

as certezas servido de camuflagem
o discurso pronto, a reflexão automata
concordar pelas conveniências

e a ciência disso tudo tomada com a mão, como a areia fina que um dia foi praia
a água doce que um dia foi rio, por um dia ter sido mar... olhos sonolentos de elefantes
a mágoa de não me tornar o desejo que quiseram que eu tivera, de transformar a areia em vidro
por um dia ter sido praia.



por um dia
eu e a areia,
e a imagem mental que tu hoje processa dessa areia-vidro-praia,
termos dançado [e sido] entre alguns grãos (se é que hajam) da poeira do universo.