As árvores são poemas da terra para o céu. Nós as derrubamos e as transformamos em papel para registrar todo o nosso vazio (Khalil Gibran)



sábado, 16 de julho de 2011

Narciso enquanto viajante

Tornado desgosto
depurei-me
e assumi posturas próprias dos que fogem
pela silenciosa, inconteste e apagada avenida do passado (já sem cor, perdendo os contornos, sendo consumida pelo esquecimento...).

escondido em um canto
tornei-me vértice de espaços.
Inalcançável (mesmo que de fato não fosse)
aos braços da bailarina de gesso
que repousa em pausas
sobre a caixa de música selada e esquecida
sob uma carta nunca lida 
de alguém já sem rosto

Espacializei minha tormenta: gerei um canto!
grito azul para o vento.
Sofreguei a mim 
filtrei minhas angústias
para além da parede oposta que me separa
(ante meus dedos, ante minhas luvas de tocar piano em serenata aberta contra a lua, também já sem rosto)
da imagem do meu reflexo

Consumi as folhas certas da floresta
(que outrora foi deserto, que amanhã será deserto)
pensei compreender a impermanência da direção de meus passos de buscar o sol. 
Acordado a noite forjei um molde do pretensamente-eu,
para poder confrontá-lo ao espelho,
aos meus olhos,
à planície das águas

E no súbito nascer do dia
afoguei-me nessa seta curva
de buscar o âmago de mim