As árvores são poemas da terra para o céu. Nós as derrubamos e as transformamos em papel para registrar todo o nosso vazio (Khalil Gibran)



domingo, 24 de fevereiro de 2008

lembranças

no meu bolso
uma migalha de pão
uma resposta para uma pergunta muitas vezes feita
um canivete
um apontador de canivetes
um lubrificante para apontadores de canivete

e um resto de sorisso
que sobrou em mim

Para ti

pouco cabe
nas lembranças que tenho
das tuas mãos
inseguras

e menos ainda
na figuração
que rege teu rosto insone
no limiar
do desfiladeiro
onde naufragam teus olhos

impunemente propicio a mim
rápidos vultos
dos lábios
agitados e tensos
de tuas agonias
de tuas palavras
em xeque

da solidez q aparentemente ofuscas
pela miraculosa ausência de teu pranto

de tuas borboletas em despedida
da forma estranha com que seguras teu leque

e, assim, mesmo que nada sobre no lirismo
mesmo que sozinhos fiquemos
no mar revolto
no mar sem mar
no mar sem som
sem formas e normas entre todos
como um palco em sombras
a exprimir o sol pela garganta
tênue

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

sabedorias

não havia lugar para morte no mundo que ela constriu para si
não havia medo
não havia sombras, tempestades, pesadelos...
não havia dor
não havia desespero
nem nada

sozinha e intacta
dentro de mil paredes de vidro
protegida do mundo
totalmente preservada

reinando plenamente
sobre seu domínio
o império onde nada perece
onde tudo está sempre em seu lugar
q construiu para fugir
da vida, dos sonhos, do amor...

da letalidade do amor
da letalidade dos sonhos
da imprevisibilidade do mundo que a qualquer custo demonstrou querer compreender...